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Evangelho: Mateus 18, 15-20: O Roteiro de Cristo para a Reconciliação

Matheus18

Meus queridos irmãos e irmãs,

Depois de nos ensinar sobre a importância dos “pequeninos” e sobre o Seu coração de Pastor que busca a ovelha perdida, Jesus, com seu realismo amoroso, passa a nos ensinar algo crucial: como curar as feridas que inevitavelmente surgem dentro da nossa comunidade, da nossa família de fé.

Todos nós sabemos que os conflitos acontecem. Em nossas casas, no trabalho e, sim, também na Igreja. Onde há seres humanos, há o risco de pecado, de ofensa e de mágoa. A grande questão não é se os conflitos vão surgir, mas como nós, como discípulos de Cristo, vamos lidar com eles. E Jesus não nos deixa com teorias vagas; ele nos dá um roteiro prático, um caminho de cura em quatro passos.

O primeiro passo é um chamado à coragem e ao amor pessoal. Jesus diz: “Se o teu irmão pecar, vai corrigi-lo, a sós.” Pensem na sabedoria disso. Qual é a nossa primeira reação, muitas vezes? É a fofoca. É contar para uma terceira, quarta, quinta pessoa, envenenando o ambiente. Ou é o ressentimento silencioso, onde guardamos a mágoa e construímos um muro entre nós e o irmão. Jesus nos proíbe de fazer as duas coisas. Ele nos manda ter a coragem de procurar o irmão, em particular, com um objetivo claro: “ganhaste o teu irmão”. O objetivo não é vencer uma discussão, não é humilhar, não é provar que estamos certos. O objetivo é restaurar a comunhão, é resgatar a pessoa.

Se isso não funcionar, passamos ao segundo passo: “toma contigo mais uma ou duas pessoas”. O círculo ainda é pequeno e discreto. O objetivo não é formar uma “gangue” para pressionar o outro, mas trazer testemunhas que possam ajudar a ver a situação com clareza e apelar à consciência da pessoa. É um ato de amor comunitário em pequena escala.

O terceiro passo é levar a questão à comunidade, à Igreja. Este é o último recurso, mostrando a seriedade da ruptura. A comunidade inteira, com sua sabedoria e oração, tenta trazer o irmão de volta.

E se nada disso funcionar? Jesus diz algo que pode soar duro: “seja para ti como o pagão e o cobrador de impostos.” Mas devemos nos perguntar: como Jesus tratava os pagãos e os cobradores de impostos? Ele os buscava, comia com eles, chamava-os à conversão! Portanto, este não é um ato de exclusão odiosa, mas o reconhecimento de uma triste realidade: a pessoa, por suas próprias escolhas, colocou-se fora da comunhão. A comunidade reconhece essa fronteira, mas continua a amá-la e a manter a porta aberta para o seu retorno, assim como Jesus fez.

Alguém poderia pensar: mas que autoridade temos nós para fazer isso? E é aí que Jesus fundamenta tudo o que disse. Ele nos dá três garantias divinas.

A primeira é a autoridade da Igreja: “Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu”. As decisões que a comunidade toma em oração e fidelidade a este processo têm um peso eterno, pois refletem a vontade de Deus.

A segunda é o poder da oração em comum: “Se dois de vós estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido”. A reconciliação é obra de Deus. E a oração unida é o motor que move a mão de Deus para curar os corações mais endurecidos.

E, finalmente, a garantia suprema, a razão de tudo: a presença de Cristo. “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.” Nós não estamos sozinhos neste processo difícil de cura. Cristo mesmo está presente na conversa “a sós”. Ele está presente com as “duas ou três testemunhas”. Ele está presente quando a comunidade se reúne. Ele é a fonte da nossa coragem, da nossa sabedência e da nossa esperança na reconciliação.

Irmãos, Jesus nos oferece hoje um dom e um desafio. O desafio de abandonar a fofoca e o ressentimento, e abraçar o caminho corajoso do diálogo e da reconciliação. E o dom de saber que não fazemos isso sozinhos, mas com a autoridade, o poder e a presença real de Cristo no meio de nós.

Que possamos ser uma comunidade que vive este roteiro de cura, para que o mundo veja e creia no poder do Seu amor que restaura todas as coisas.

Amém.

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